6 de junho de 2018 “Inovação é saída para diminuir dependência do petróleo”, afirma Newton Frateschi
Enquanto o Brasil atravessava uma grave crise de abastecimento com a greve dos caminhoneiros nas últimas semanas, pouco se falou sobre inovação e investimento em outras fontes de energia. Para o professor Newton Frateschi, diretor-executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp e coordenador da Rede Inova São Paulo, a centralização da mobilidade do Brasil no petróleo está com os dias contados. O fim desta concentração deverá ser impulsionada pelos veículos autônomos e elétricos e mostra a necessidade de um projeto macro para o país. “O que falta é uma política de Estado inteligente para vários mandatos e uma visão mais inovadora dentro do poder público”, afirmou.
Em poucos dias de paralisação dos caminhoneiros, o país já sentia a falta de combustíveis nos postos, aulas foram canceladas e produtos começaram a faltar nos supermercados e hospitais. De acordo com dados da Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC), o prejuízo na cidade com a greve chegou a R$ 1,1 bilhão. Para Frateschi, este cenário mostrou que o Brasil está “atrasado nos sistemas de distribuição de energia”. Confira trechos da entrevista:
Como o senhor vê a crise de abastecimento que atingiu o país nas últimas semanas?
A inovação é fundamental para a mobilidade. Veja o que aconteceu no país na falta de combustível. Não faz muito sentido cada pessoa ter um carro, como é hoje. Por isso, o sistema de carro autônomo (elétrico e sem motorista) é algo certo. Imagine menos carros para transportar mais pessoas. O uso de combustível fóssil não faz sentido devido à poluição e à logística, em que um caminhão tem de transportar um líquido para os postos de abastecimento. Num sistema de carros autônomos e elétricos, essa crise não aconteceria, pois sua fonte não está centralizada em um único local, como é o caso do petróleo.
Hoje, 60% do que é produzido no Brasil é transportado pelas rodovias. Na sua opinião, por que a logística do país ainda é tão centralizada?
Obviamente há a pressão das indústrias de automóveis por este tipo de logística rodoviária. Mas não faz mais sentido essa centralização e entupimento das estradas com caminhões. Nos Estados Unidos, por exemplo, o motor do trem é elétrico e algo que deveria ser implementado no Brasil para transporte à longa distância. Além dessa pressão comercial, sempre há uma tendência em manter as coisas como estão.
O Brasil é um país com muitos recursos naturais. O que falta para investir em fontes de energias renováveis, como a solar e eólica?
Essa é uma questão de Estado e governo, além de uma disposição para mudar isso. É necessário um plano a longo prazo, pois não é algo que se resolve em um ou dois anos. Criar essa rede distribuída de energia exige investimento. Quando tivemos uma crise hídrica anos atrás, a solução mais rápida foi investir em mais usinas hidrelétricas que causam vários impactos ambientais. O que falta é uma política de Estado inteligente para vários mandatos e uma visão mais inovadora dentro do poder público.
Como o ecossistema da região de Campinas contribui com um projeto macro de inovação no país?
O ecossistema da região de Campinas possui todos os elementos importantes para um ecossistema de inovação e empreendedorismo de classe mundial. Temos a indústria, empreendedores e o setor público atuantes e se organizando conjuntamente cada vez mais. O evento InovaCampinas é um desses exemplos, de como reunimos o que temos de melhor em inovação e empreendedorismo de todos os setores em um mesmo epicentro. É claro, não posso deixar de dizer que temos a Unicamp, uma universidade voltada para formar profissionais inovadores, líderes que cada vez mais rompem com o tradicional e constroem as pontes entre o público e o privado, levando o conhecimento e a tecnologia para a sociedade. Ter uma universidade de classe mundial, como a Unicamp, é elemento central dos principais ecossistemas de inovação globais. É muito comum no mundo inteiro que tais ecossistemas de inovação se formem em torno das universidades. É o caso do Vale do Silício, por exemplo.
Para o senhor, os carros elétricos e autônomos são uma realidade a curto prazo?
É inevitável e tenho convicção de que vai acontecer. Quando eu vejo as empresas automobilísticas se imaginando como empresa de mobilidade daqui 20 anos é porque isso vai acontecer. Acho que a transição será mais ou menos como foi a do transporte a cavalo para carros. No começo, parecia que não iria ocorrer nunca. Hoje os cavalos são proibidos na rua. É só uma questão de tempo e que vai depender de internet de muita qualidade, implantação de cidades inteligentes, internet das coisas. Tudo isso terá que estar muito bem interligado.
Isso mudará também o comportamento do consumidor?
Com certeza. Você não precisará mais ter um automóvel, será necessário apenas solicitar um carro autônomo que te levará aonde quiser. Não tem muita volta, o motor a combustão está com os dias contados.
O senhor acha que durante a greve o debate ficou focado no preço do diesel, faltando uma discussão mais ampla sobre a necessidade de inovar em outras fontes de energia no país?
Sim, mas é compreensível. Era necessário discutir o que precisava ser viabilizado naquele momento. O Brasil precisa de uma política de Estado, reforma tributária, modernização da indústria e partir daí um projeto amplo de inovação.
InovaCampinas | 24 e 25 outubro 2018
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