Grupo projeta Campinas como ‘celeiro criativo’ internacional

Grupo projeta Campinas como ‘celeiro criativo’ internacional

Força-tarefa usa tecnologia e inovação para atrair negócios, investimentos e empregos

Guilherme Busch

Uma “força-tarefa” formada por pesquisadores e dirigentes dos principais núcleos de produção tecnológica de Campinas inicia neste segundo semestre de 2016 uma campanha para que a cidade assuma de fato, e de direito, o papel de protagonista no setor de inovação, ciência e tecnologia.

A ação está sob a tutela da Fundação Fórum Campinas Inovadora. O objetivo é que o Município não tenha apenas o título de “Vale do Silício Brasileiro”, mas que consiga tirar isso do papel, fomentar negócios, atrair investimentos, gerar empregos, criar eventos e assumir a função de referência internacional no setor, aglutinando não só boas ideias e parceiros que as executem, mas também investimentos e receitas gerados pelo potencial de todo esse mercado.

Uma lista de 12 municípios, entre os quais Barcelona (Espanha), Hannover (Alemanha), Helsinque (Finlândia) e Austin (EUA), tem exemplos que deram certo na área de tecnologia e vão servir de modelo para medidas que serão implementadas em Campinas. Uma das propostas é criar um evento na cidade que seja referência mundial para inovação e desenvolvimento de aplicativos da mesma forma que Barretos tem sua imagem ligada a rodeios e Ribeirão Preto a uma feira de agronegócios (Agrishow).

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em outubro, será o carro-chefe dessa tentativa de mudança. Nos dias 20 e 21 estão agendados encontros de negócios que prometem mudar essa realidade. A geração de empregos e, como consequência, riquezas é o principal objetivo final da discussão. O Vale do Silício “original” fica na Califórnia (EUA) e começou a se desenvolver em 1950 com foco em pesquisa na área de tecnologia. A maioria das empresas instaladas na região é do setor de eletrônica/informática. O nome silício é oriundo do elemento químico que é matéria-prima fundamental na
produção de eletrônicos. A região concentra milhares de empresas que dominam tecnologia de ponta, e ficou conhecida como polo criador de inovação e modelos acessíveis de financiamento para projetos
na área, os chamados Startups Companies.

A comparação de Campinas com esse oásis nos EUA não é novidade. A maior revista especializada no setor de tecnologia de informação e armazenamento de dados do mundo, a Focus, da editora britânica Data-CenterDynamics, publicou em 2015 ampla reportagem apresentando a cidade como o maior polo de tecnologia da América Latina. No texto, a revista ressalta a vocação voltada ao setor de tecnologia e revela que o Município é responsável por 15% da produção de tecnologia do País.

“Campinas ainda é a única cidade do País que possui cinco parques tecnológicos — Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
em Telecomunicações (CPqD), Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, Parque Científico e Tecnológico da Unicamp (Inova) e Techno Park. Somados, os cinco parques, que não ficam juntos, seriam o maior da América Latina”, afirma José Eduardo Azarite, que preside a Fundação Fórum Campinas Inovadora e é vice-presidente Comercial e de Negócios do CPqD.

A fundação será o catalizador dessa empreitada. Criada oficialmente em 2002, ela vem atuando na região desde 1999 e ganhou reforços de peso recentemente. Entre eles, Agemcamp, Fiesp, Ciesp, Institutos de pesquisa, polos Ciatec e TecnoPark e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. “A fundação tinha antes cunho mais acadêmico e de pesquisas, mas hoje está aberta para atrair e conviver com mais gente de outras áreas”, afirma Eduardo Gurgel do Amaral, diretor do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp. “Ela vai assumir o papel de guardião dos projetos de longo prazo que precisam ser pensados para a cidade. Para evitar que eles se percam com o tempo, com as mudanças de governo”, diz Azarite.

Entre os principais objetivos da iniciativa estão a atração de empresas, a formação de mão de obra qualificada, a necessidade de influenciar a tomada de decisões quanto a políticas públicas e a proposição de modelos de desenvolvimento que possam ampliar a qualidade de vida e a sensação de bem-estar. Para isso, seria preciso pensar projetos, por exemplo, para as áreas de transporte e mobilidade urbana e moradia.

Startups
A reportagem da Focus também aponta que Campinas tem propostas definidas para acelerar startups (empresas jovens e inovadoras) e fornece treinamento gratuito para os gestores de inovação. Os incentivos fiscais para startups — concedidos pela Prefeitura — também foram destaque na reportagem.

Em 2014, foi sancionada lei que concede isenção total do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) às startups que se instalarem na cidade, além de redução da alíquota do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) sobre a receita tributável (veja texto nesta página).

Portal
Uma das ações prevê a criação de um portal bilíngue que possa mostrar os atrativos de Campinas para possíveis investidores e candidatos a vagas nas empresas de inovação e tecnologia. “Os bons profissionais dessa área podem escolher onde trabalhar. Naturalmente vão migrar para locais onde tenham condições de ter qualidade de vida e facilidades para eles e suas famílias. Não adianta
criar um excelente projeto se a cidade não oferecer uma boa infraestrutura de escolas internacionais, hospitais, mobilidade urbana, lazer e segurança”, disse Azarite.

Matéria originalmente publicada no “CORREIO POPULAR – Campinas, domingo, 4 de setembro de 2016”. Baixe Aqui